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Nesse Dia dos Pais, a hora é de festejar e de assumir mais responsabilidades

Por Eduardo Marino, diretor de Conhecimento Aplicado da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal

Celebrar o privilégio de acompanhar nossos filhos crescerem – e de crescermos junto com eles. Quer motivo melhor para nós, pais, comemorarmos o dia de hoje? E além da celebração, este domingo também tem espaço para uma reflexão. É hora de pensar o quanto nós estamos colaborando para deixar um legado positivo para a próxima geração de pais.

Para acompanhar as transformações rápidas e intensas que vemos ao nosso redor, precisamos mudar nosso olhar sobre o que é ser pai hoje. Precisamos de mudanças – nos pais e na sociedade – para acomodar uma paternidade ativa com homens dividindo, de fato, as responsabilidades na criação dos filhos e na manutenção da rotina de casa. E, claro, também queremos ver o poder público e as empresas levantando essa bandeira, para fornecer condições para que os pais deem esse passo adiante.

Esse cenário ajuda a colocar em prática um dos nossos principais pilares da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, que é fortalecer o cuidado com as crianças, valorizando o vínculo, a interação e o estímulo. Uma tarefa na medida para nós, pais!

Mas como colocar tudo isso em prática, em meio ao dia a dia corrido que todos nós temos? Dentro de casa, por exemplo, como ser mais presente, participar mais, dividir melhor as tarefas e até se envolver mais com o planejamento do dia a dia da casa e das crianças? Para jogar um pouco de luz nessa reflexão, vale ter em mente a pesquisa Situação da Paternidade no Mundo, recém-divulgada pelo instituto ProMundo.

Um dos dados aponta que em todo o mundo as mulheres passam significativamente mais tempo do que os homens – às vezes até dez vezes mais – cuidando da casa e dos filhos. Que fique claro: um trabalho difícil e não remunerado.

Além disso, o levantamento mostra que se os homens dedicassem pelo menos 50 minutos a mais por dia para cuidar da casa e das crianças (e as mulheres, portanto, realizassem 50 minutos a menos), isso já ajudaria a balança a ser equilibrada rumo à igualdade de gêneros.



Esse Dia dos Pais poderia, então, se transformar no dia em que se parou de dizer que os pais "ajudam" em casa. É hora de assumir nossa fatia igualitária nessas funções, nesse trabalho não pago. Até porque a mesma pesquisa da ProMundo mostrou que compartilhar esses cuidados é bom para os homens, já que melhora sua saúde mental, entre outros benefícios.

Não à toa, o braço da pesquisa realizado aqui mostrou que 82% dos pais brasileiros fariam qualquer coisa para se envolverem mais no cuidado do seu bebê, nos primeiros meses após o nascimento ou adoção. Mas o que está impedindo esses homens?

Uma das barreiras identificadas na pesquisa é a falta de licença-paternidade paga e adequada. Se dentro de casa precisamos agir para deixar para trás o papel de meros ajudantes, fora dela temos de buscar a ampliação dos direitos, seja em termos de legislação ou de políticas internas nos locais de trabalho. Quem aí tem flexibilidade no emprego para, por exemplo, sair mais cedo para acompanhar uma consulta pré-natal ou ir assistir à apresentação de dança dos filhos – e sem olhar feio do chefe?

Assim, é preciso colocar em prática outra de nossas crenças aqui na Fundação Maria Cecilia: sensibilizar a sociedade para a importância dos primeiros anos de vida de uma criança. Ir, aos poucos, despertando cada pessoa (ou cada gestor) de que a participação do pai é fundamental e que semear o pleno desenvolvimento de meninos e meninas nessa fase é colher por toda a vida.

Mas se o desafio é grande, os bons exemplos estão aqui para nos animar. Um deles é o Marco Legal da Primeira Infância, aprovado há três anos e que possibilita a ampliação de 5 para 20 dias a licença-paternidade (para quem aderir ao Programa Empresa Cidadã).

Na iniciativa privada, outro dado nos inspira a ir mais longe. Na avaliação Great Place to Work, que analisa as melhores empresas para se trabalhar do mercado, houve um crescimento no número de companhias que ampliaram a licença-paternidade. Se no ano passado, dentre as 150 melhores empresas para trabalhar no país, apenas 29% concediam esse benefício, o levantamento deste ano mostrou que essa porcentagem saltou para 39%.

Se olharmos para o cenário político, também podemos ver dezenas de projetos de lei em tramitação na Câmara dos Deputados cuja proposta é ampliar a licença-paternidade ou implementar a licença parental, que concede um período adicional após a licença-maternidade que pode ser assumido pelo pai.

Um sonho? Pode ser. Mas já é realidade em alguns países. Na Suécia, por exemplo, o casal deve dividir entre eles uma parte dos mais de 400 dias de licença parental. Assim, as empresas são obrigadas a fornecer esse período extra aos pais. Vistos em públicos com seus filhos e filhas – seja brincando no parquinho ou ajudando uma criança que se recusa a colocar a blusa – eles se tornaram um símbolo mundo afora dessa nova participação paterna.

Para a Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, a licença-maternidade de 180 dias para todas as mulheres e de 20 dias para todos os homens é uma meta que vale a pena perseguir. Mesmo porque está permitido sonhar longe no Dia dos Pais, não é mesmo? Sonhar para que tenhamos mais possibilidades, para que mais pais brasileiros possam viver uma paternidade em que os homens possam entrar em contato com suas vulnerabilidades, sua sensibilidade e até expressar afeto sem os julgamentos de uma sociedade machista. Uma paternidade que faz com que o vínculo com os filhos se fortaleça. E os frutos desse belo plantio possam ser colhidos não só pelos pais, mas também pelas crianças e pelas mães, que se beneficiam de uma sociedade mais igualitária.

Vamos juntos?



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